Radicado no Brasil desde 1998, em São Paulo (SP), o senador italiano Fabio Porta, do Partido Democrático (PD), estará em Porto Alegre na semana que vem. Também candidato a deputado nas próximas eleições, ele se mostra preocupado que o Brasil, segundo maior colégio eleitoral do continente e um dos principais redutos de italianos no mundo, perca representação no parlamento italiano.
Os italianos vão às urnas escolher novos representantes no parlamento no dia 25 de setembro, após a dissolução do parlamento, em julho. Aqueles que migraram para o Brasil ou brasileiros com dupla cidadania podem votar, pelos correios, até 22 de setembro. No Rio Grande do Sul, conforme a embaixada da Itália, em Brasília, os ítalo-brasileiros registrados na jurisdição de Porto Alegre somam 68.480. Em todo o país, são 421,8 mil.
A eleição pouco menos de um ano antes da data antes prevista, em junho de 2023, foi provocada pela renúncia do primeiro-ministro Mario Draghi depois que seu governo entrou em colapso. Pelas regras, quando o bloco governista perde a maioria do Parlamento, as eleições gerais são antecipadas para definir uma nova maioria no Legislativo que irá formar o governo. A Itália é o único país que reserva vagas em seu parlamento para representantes fora de seu território. A repartição da América do Sul, a que os cidadãos italianos residentes no Brasil pertencem, irá escolher um representante para o Senado e dois para a Câmara dos Deputados – metade em relação às últimas eleições.
Em 2018, Porta candidatou-se ao Senado italiano, tendo sido proclamado senador somente em janeiro de 2022, após um longo processo em que ficou comprovada a fraude eleitoral ocorrida na Argentina. Em vista da dissolução do Parlamento, em julho passado, ele é novamente candidato, desta vez a deputado, para representar os cidadãos italianos residentes na América do Sul. Sociólogo, natural de Caltagirone (Sicília), foi por duas vezes deputado no Parlamento italiano, eleito pela Repartição América Meridional da Circunscrição do Exterior (nas legislaturas de 2008 e 2013).
Momento político na Itália
— Essa não era uma eleição prevista para o momento. Foi um fato inédito na história da República Italiana ter uma eleição no meio do verão (na Europa). Agosto é um mês tradicional de férias coletivas e não de campanha. A atual legislatura deveria terminar na metade do próximo ano e não era esperada essa antecipação. É muito grave esse processo eleitoral, na véspera de um trabalho de renovar a lei orçamentária e em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia
Desafio da eleição
— Na última eleição, eram quatro deputados e dois senadores para a América do Sul. Agora, reduziu pela metade. Por isso, essa eleição torna-se mais difícil e, pela primeira vez, desde que foi ampliada a presença dos italianos no Exterior, a comunidade italiana no Brasil corre o risco de ficar fora do parlamento. O Partido Democrático (PD) é o único que sempre elegeu representantes da comunidade brasileira, enquanto outros partidos sempre elegeram representantes da comunidade italiana da Argentina.
Agilidade na cidadania italiana
— Fui um dos parlamentares que conseguiu, há alguns anos, a aprovação de uma lei para melhorar os serviços consulares para agilizar a fila de quem busca a cidadania italiana. Essa lei instituiu um fundo especial, abastecido com recursos transferidos para os consulados, onde cerca de 25% a 30% do arrecadado fica exclusivamente para contratação de pessoas e equipamentos. No Rio Grande do Sul, percebi uma utilização inteligente dessa verba, mas que ainda não conseguiu resolver todos os problemas. É possível avançar mais nisso, com recursos, com atenção, para que as solicitações avancem com mais agilidade e para que se resolva a demanda de quem procura por esse direito.
Fraudes no processo
— Foi uma luta difícil (conquistar a vaga) e longa contra uma fraude gigantesca. Pela primeira vez uma fraude dessa dimensão foi descoberta e denunciada. O senador eleito de forma fraudulenta foi cassado e eu conquistei a vaga. Foram 15 mil cédulas eleitorais em Buenos Aires que tiraram o direito dos ítalo-brasileiros de ter um senador. Essa vitória é importante para, não somente a minha pessoa, mas para a dignidade dos italianos no Exterior. Agora, estamos muito alertas porque esse tipo de episódio pode voltar.
Serra gaúcha
— Fui várias vezes para a Serra. Me sinto gaúcho. São Paulo é a minha residência, mas o Rio Grande do Sul é o local que mais visitei e conheço no Brasil. Fui para Caxias, Gramado, Bento Gonçalves, mas também conheço Santa Maria. Já tomei vinho com o Raul Randon. Também estive com ele no parlamento quando ele recebeu a Láurea Doutor Honoris Causa, concedida pela Universidade de Pádua, na Itália.