No dizer do ex-deputado Fabio Porta, “estamos numa encruzilhada difícil” e, metaforicamente, “no fundo do poço” de onde, para não morrer, a única saída é subir. “Espero que essa votação no Senado seja a primeira etapa de uma lenta recuperação da imagem” que, mundo afora, a Itália arruinou nos últimos tempos em relação aos italianos no exterior.
Porta se refere a duas questões importantes que estão acontecendo atualmente: a primeira é a absolvição por maioria, na semana que passou, na Comissão Eleitoral do Senado, do proclamado senador pela América do Sul, Adriano Cario, contra quem pesam denúncias de fraude envolvendo cerca de 10 mil votos em 2018; a segunda diz respeito às eleições em curso para a renovação dos Comites – ‘Comitati degli Italiani all’Estero’ que, da forma como estão sendo conduzidas, deverão registrar uma participação ainda menor que a de 2015.
A manutenção do mandato de Cario, cujas fraudes eleitorais teriam alijado Porta do processo, agora vai depender do plenário do Senado que, em data ainda a ser marcada, decidirá em instância final, através do voto secreto, sobre as “provas contundentes” juntadas no processo que se desenvolve também na área do Judiciário italiano e argentino. Para o ex-parlamentar que divide residência entre a Itália e o Brasil (onde dirige o ‘Patronato’ Ital-Uil), o que está em jogo não é apenas um mandato, mas, e principalmente, o próprio sistema de representação dos italianos no mundo.
“Normalmente sou otimista e continuo sendo por natureza, mas, pela primeira vez na minha trajetória política, tenho um pessimismo que está quase prevalecendo sobre o otimismo”, confessou Porta em tele entrevista exclusiva que concedeu ao editor da Revista Insieme. Ele se encontra em Roma, acompanhando o desenrolar dos fatos e, naturalmente, à frente de uma batalha que agora é tudo ou nada. Na semana passada, antes da decisão da Comissão Eleitoral do Senado, ele apresentou pessoalmente suas ‘alegações finais’, instando, inutilmente, que o senador Cario fizesse o mesmo.
No change.org foi iniciada nesta segunda-feira uma petição apelando “pela legalidade do voto e pela dignidade dos italianos residentes no exterior”. Ela é dirigida aos senadores da República Italiana para que votem “de acordo com suas consciências”, tomando por base “uma visão completa dos fatos” e anulando a decisão da comissão que teria “como consequência inexorável e funesta o fim do voto no exterior e – no geral – dos anos de políticas em benefício de nossas grandes comunidades italianas no mundo”. “Em jogo – diz ainda a petição – está a nossa democracia, o respeito à lei e a imagem da Itália no mundo”.
O documento lembra que as perícias judiciais realizadas pela ‘Procura della Repubblica di Roma’ “confirmaram o crime de adulteração de cédulas eleitorais, dando razão ao pedido de anulação de cerca de 10 mil cédulas eleitorais” nas eleições parlamentares de 2018. A Comissão do Senado deu “um inquietante sinal de impunidade em relação a este crime e de sua provável repetição nas próximas eleições”, está escrito ainda na petição.
Na entrevista a Insieme, Porta se disse “muito triste, preocupado e amargurado” porque atrás da decisão da Comissão Eleitoral (“que vamos tentar reverter”) algo como “o fim legitimado constitucionalmente, não apenas do voto no exterior, mas também aa própria relação da Itália com a nossa grande comunidade que vive fora dela”.
“Significaria – aduz o ex-deputado – não somente que fraudes eleitorais no exterior são permitidas e podem se repetir ainda numa escala maior, mas significaria também que, para as instituições italianas, os italianos no exterior continuam cidadãos de série B, ou seja, o voto deles não é importante”.
Porta disse que não gosta de falar em complô para desmoralizar o voto dos italianos no exterior, “mas neste caso estou chegando a essa conclusão. Digo até um pouco brincando: existe um complô realmente para acabar com os italianos no exterior e, claramente neste caso, com as políticas para os italianos no exterior.”
Para refazer a péssima imagem da Itália que ora se desenha sobre os italianos no exterior, Porta espera que sejam revertidos tanto o voto da Comissão Eleitoral do Senado sobre o caso das fraudes eleitorais que atribuíram mandato a Adriano Cario, quanto a revisão do processo eleitoral para os Comites e da própria legislação que regula o voto dos italianos no exterior. “Talvez seriam as últimas duas chances para poder mostrar que alguma coisa ainda pode ser feita em benefício dos italianos no exterior.
Antes da entrevista, Porta rebateu o termo ‘palhaçada’ para definir a decisão da Comissão Eleitoral do Senado: “Palhaçada è pouco – disse ele -. Trata-se de “porcata” (como na vulgata politica se chamam as aberrações votadas no Parlamento). Temos agora uma ultima chance: o Senado no plenário deverá confirmar com votação secreta esta decisão e devemos mobilizar os italianos honestos para que peçam ao Senado a anulação do quanto aprovado pela Comissão Eleitoral (a “Giunta”). Além da minha situação pessoal, em jogo está o futuro do voto no exterior e a própria representação politica dos italianos no mundo. (…) Melhor aboli-las se for assim”.