Após muitos anos de experiência na América do Sul e com uma boa integração nas associações e instituições representantes a Itália dos italianos no exterior, há alguns anos senti a necessidade de colocar as minhas competências, tempo e capacidade criativa de movimentos civis e políticos que trabalham para o bem dos italianos no exterior. Com esse propósito, me aproximei do grupo que, há várias legislaturas, apoia o amigo Fabio Porta, siciliano de Caltagirone, que passou uma vida lutando para integrar cultura, experiências e recursos entre Itália e Sul América. O que me impressiona em Fabio é o empenho desinteressado e incessante para facilitar a vida dos italianos n o exterior e para criar pontos culturais que gere valor duradouro entre América do Sul e Itália. Esta entrevista do Deputado Porta ajuda a melhor compreender como os milhões de Italianos ou oriundos que vivem na América do Sul não só são um recurso para a importância que tem o turismo na economia italiana mas também uma oportunidade de cooperação e desenvolvimento em um mundo cada vez mais globalizado.
Salvatore Milanese
Deputado Porta, pode nos contar sobre o seu percurso de vida da Itália para o Brasil e de sua carreira política?
Nasci em Caltagirone, na Sicília e dali, como muitos outros da mesma época minha, fui para longe de casa para frequentar a Universidade. Me graduei em Roma em Sociologia; de estudante universitário tornei-me dirigente nacional da Ação Católica Italiana e, após a graduação, comecei a trabalhar, inicialmente no serviço civil, após recusa convicta em aderir ao serviço militar, e depois como pesquisador, na UIL (Unione Italiana del Lavoro). Em 1995 cheguei a primeira vez no Brasil graças a um projeto de cooperação internacional sobre formação sindical; após alguns anos de “idas e vindas” entre Itália e Brasil, desde o final dos anos 90 estou estavelmente residente no Brasil, onde encontrei minha esposa e nasceram minhas duas filhas. A política, na realidade, sempre foi parte de minha vida, familiar e profissional, dos meus valores e da minha cultura. Foi quase natural encontrar, também fora de nosso País, uma maneira de colocar o empenho político a favor de meus compatriotas.
Qual a importância do voto no exterior, quantas circunscrições temos no mundo e fale-nos de sua circunscrição.
Em 2001, com uma reforma constitucional, o Parlamento italiano torna efetivo o exercício do direito de voto ativo e passivo para os cidadãos italianos residentes no exterior; um direito que antes existia somente em linha de princípio, na ausência de uma circunscrição eleitoral do exterior e da possibilidade, para que vivia fora da Itália, de ser candidato. Nasce dessa forma a “Circunscrição do Exterior”, subdividida em quatro grande repartições: Europa, América do Sul, Centro e Norte América, Resto do Mundo.
A primeira eleição com os eleitos no exterior, que ainda eram dezoito (12 deputados e 6 senadores) ocorre em 2006, enquanto a última foi há poucos meses, em 2022, desta vez com uma redução de um terço do número dos parlamentares. Apensar de nos últimos vinte anos os italianos residentes no exterior terem passado de três a seis milhões, o número de seus representantes no Parlamento (após a reforma que reduziu a seiscentos o número total e deputados e senadores italianos ) é hoje só doze, oito na Câmara e quatro no Senado. A redução mais drástico ocorreu exatamente na “minha” repartição, a América do Sul, que reduziu pela metade os parlamentares, elegendo agora somente um senador e dois deputados. Na América Meridional vivem hoje quase dois milhões de cidadãos italianos, enquanto são mais de sessenta milhões os ítalo-descendentes, dos quais mais da metade vivem no Brasil.
Como seu trabalho pode ajudar os italianos no exterior e como se pode fortalecer o elo com a Itália
O trabalho de um parlamentar eleito no exterior é fundamental para manter forte o elo de nossas coletividades com a Itália e para representar, no Parlamento, as inumeráveis reivindicações dessa grande comunidade de compatriotas. Desenvolver esse compromisso com seriedade requer grandes sacrifícios, por o deputado ou senador deve ter a capacidade de estar ao mesmo tempo presente e atuante no Parlamento mas também em seu próprio território de referência; um território que, no caso da circunscrição do exterior, é de dimensões continentais. O parlamentar pode utilizar o seu mandato para submeter ao governo situações específicas que têm necessidade de respostas concretas e urgentes, e esse trabalho pode ser feito somente por quem conhece bem a realidade dos italianos no exterior.
O elo com a Itália tem também necessidade de propostas legislativas mas também de iniciativas políticas contínuas que tornam profícua e estreita a relação das instituições e da sociedade italiana com a Outra Itália que vive fora das fronteiras nacionais e essa também é uma tarefam específica dos eleitos no exterior.
Poderia nos explicar por que a comunidade de italianos no exterior é importante para a Itália?
Por muitos motivos. Alguns facilmente perceptíveis, se pensar na difusão do Made in Italy em todo o mundo, que deve, exatamente à presença ampla e capilar de milhões de italianos e, principalmente de seus descendentes, a penetração e o sucesso que todos conhecemos. Mas existem muitos outros motivos que deveriam nos elar a investir mais na relação da Itália com a suas coletividades no exterior: o extraordinário potencial do ‘turismo de raízes’, que pode contar com um BACINO de quase cem milhões de itálicos em todos o mundo que que seria linfa vital principalmente para o sul e nossas pequenos municípios; a internacionalização das pequenas e médias empresas que, graças aos italianos no exterior e às nossas câmara de comércio no mundo poderiam contar com um formidável “ativo” e, portanto, uma vantagem competitiva única no seu gênero; enfim, a possibilidade de estender, através da língua e da cultura, a nossa presença, apontando também para a emigração de retorno de muitos netos de italianos no mundo que poderiam contribuir para inverter a curva demográfica italiana inexoravelmente minguante, trazendo juventude e favorecendo investimentos no País originários justamente dessa comunidade presente em todas as partes do planeta.
Pelo seu ponto de vista, pelo ponto de vista de seu programa, quais são as iniciativas mais importantes para fortalecer os elos entre a Itália e a comunidade de italianos no exterior?
Existem muitas, mas posso elencar algumas: primeiramente o ensino nas escolas italianas das “migrações” através de um projeto multidisciplinar que ajude os nossos jovens a compreender a riqueza extraordinária e, de certa forma, necessária dos fluxos migratórios, com referência seja ao acolhimento dos estrangeiros na Itália que ao conhecimento da história de nossa emigração no mundo. Um projeto que teria o mérito de promover a cultura de inclusão, mas também a de da valorização dos italianos no exterior. Necessário então focar em maiores intercâmbio a nível fundamental e universitário, favorecendo, com bolsas de estudo e estágios, a possibilidade para os nossos jovens irem aos Países de emigração italiana e, ao mesmo tempo, intensificar o fluxo de ítalo-descendentes para nossas escolas e universidades. Um tipo de “Erasmus Mundi” no eixo itálico, a ser apoiada com financiamentos adequados. Depois devem ser contemplados, também com recursos do PNRR, as joint-ventures e os intercâmbios em todos os níveis entre empresas italianas e aquelas dos países onde vivem as maiores coletividades italianas no mundo, envolvendo as melhores realidades e muitos bons profissionais e empreendedores italianos no mundo. Finalmente, como dizia anteriormente, o ‘turismo de raízes’, sobre o qual o governo italiano já está investindo e que prevê o ano de 2024 como ano “chave” graças à implementação de milhares de projetos em toda a Itália, estando atento porém para evitar dispersões de recursos e clientelismo, favorecendo então profissionalismo e inovação.
O que poderia nos dizer sobre a situação política e social das nações de sua Circunscrição e como os italianos se inserem em seus contextos?
A emigração italiana na América do Sul é provavelmente a mais significativa do ponto de vista quantitativo, mas também uma presença importante pela qualidade da presença italiana em todo o continente. Apesar disso, devido à colonização, Espanha e Portugal foram, no passado, as potências europeia mais influentes, a emigração italiana é, sem dúvida, a que marcou de maneira mais profunda os usos e costumes de países como Argentina, Brasil, Uruguay e Venezuela. Diferentemente dos ‘conquistadores’ ibéricos, nós, italianos, chegamos nestas terras para trabalhar, integrando-nos perfeitamente com as populações locais. Hoje, a presença dos ítalo-descendentes no mundo político, sindical, cultural, do empreendedorismo é evidente e constitui um motivo de orgulho para as nossas coletividades que vivem na América Meridional. Sob o aspecto político, apesar de uma instabilidade geral e a forte polarização que incide também sobre o controle democrático dos vários sistemas, posso igualmente afirmar que, no complexo, tratam-se de democracias no caminho da maturidade, como demonstrado pela reação imediata e unitárias das instituições brasileiras ás manifestações violentas de 8 de janeiro. O caso mais delicado e ainda preocupante é talvez o da Venezuela, onde o regime autoritarista de Madura nem sempre mostrou respeito pelos direitos humanos e políticos; outra situação crítica é hoje a do Perú, aflito há anos com as consequências de um sistema institucional precário e instável que viu todos os seus últimos Presidentes da República terminarem na cadeia.
O que pode nos dizer um sociólogo e político com sua experiência sobre o fenômeno da “fuga dos cérebros da Itália”, como impedir e talvez integrá-lo com programas de cooperação e intercâmbio com as nações amigas onde ele e muitos e eues colegas foram eleitos?
Nunca gostei do termo “fuga dos cérebros”, seja porque quem emigra não são só os “cérebros” mas todo o resto do corpo, ou seja, estamos rente a um fenômeno humana e socialmente mais complexo que uma simples pesquisa de oportunidade de sucesso fora das fronteiras nacionais. E isso porque os dados dos últimos anos nos dizem que não são somente graduados, profissionais e pesquisadores a buscar fortuna no exterior, mas também muitos jovens e menos jovens sem particular qualificação que se adaptem (principalmente na Europa) para realizar trabalhos também a níveis médio-baixos. Outra consideração: o problema é a “fuga” da Itália que, realmente em alguns casos, deveria ser apoiada e acompanhada por um sistema de formação e profissional que poderia obter o benefício da realização de um período de estudo ou trabalho no exterior. E me refiro aos quatro anos de escola superior no exterior, aos intercâmbios universitários de ‘Erasmus’ ou aos estágios junto a empresas ou organismos internacionais em todo o mundo. O problema é, no mínimo, o não retorno dessas pessoas na Itália e, portanto, a ausência de incentivos reais para a recolocação dessas pessoas em nosso sistema produtivo juntamente com baixos níveis salariais e à baixa mobilidade social italiana. A mobilidade em direção ao exterior, isso é, não é por si só um mal; o torna se, de ‘’circular, ela se transforma em ‘unilateral’ e, portanto, se quem vai não escolha voltar pois não encontra espaços ou incentivos adequados. Um problema italiano, que diz respeito também à baixa atratividade de nosso País em relação a estudantes e trabalhadores estrangeiros.
O que aconselharia aos prefeitos e administradores das pequenas cidades e vilas como Palma de Montecchiaro para promover maiores laços com nações para onde muitos compatriotas emigraram?
Aconselho a todos os administradores italianos locais, primeiramente, conhecer melhor o fenômeno migratório durante a história da própria cidade; frequentemente trata-se de uma história interessante e atraente, feita de muitos sacrifícios mas também de histórias de sucesso. Um patrimônio que deveria também ser valorizado e socializado, por exemplo, dedicando um museu da emigração italiana a essa epopeia e promovendo nas escolas momentos de estudo e aprofundamento sobre o fenômeno da ‘migração’. Esse tipo de abordagem ajudaria nossas comunidades locais a ter uma atitude mais inclusive em relação aos migrantes estrangeiros que cada vez mais escolhem nossas cidades como local onde viver e trabalhar. E não nos esqueçamos que somos o País europeu com o mais alto nível de recessão demográfica; emigrados e imigrados são uma fonte potencialmente útil e preciosa para responder ao despovoamento de nossas pequenas vilas. Um outro conselho meu é o de iniciar uma verdadeira e real formação de acolhimento dos ‘turistas de raízes’ favorecendo, através de projetos específicos, o retorno dos descendentes de nossos cidadãos que emigraram para o exterior, ansiosos por descobrir a terra e os locais de origem de seus antepassados. Existem financiamentos específicos, inclusive previsto no PNRR, para o ‘turismo de raízes’; o Ministério do Exterior está insistindo muito sobre esse projeto, em conexão dom o CNIT e o Ministério do Turismo e 2024 será o ano internacional do ‘turismo de raízes’ na Itália.
O Sr., como emigrante com uma visão privilegiada, o que tem a dizer sobre o grande fenômeno da emigração, integração e, portanto, reconhecimento da nacionalidade?
Graças à minha experiência de anos no mundo da emigração e da imigração, massa principalmente, a um conhecimento sociológico profundo do fenômeno, me convenci de que o fenômeno migratório pode se tornar um impulso extraordinário para o crescimento e o desenvolvimento da Itália nos próximos anos. Como disse, há muitos anos o ISTAT emitiu um alarme sobre o inverno demográfico que golpeou o nosso País; a progressiva diminuição da mão de obra jovem está se tornando um problema econômico, além de demográfico e social. A essa crise é necessário responder com políticas inteligentes nos campos fiscal e industrial, que saibam valorizar (como, por exemplo, programas de formação adequados) seja a imigração regular que a potencial emigração e retorno constituída de milhares de filhos e netos de italianos que já possuem nossa cidadania e teriam interesse em estudar, trabalhar ou simplesmente investir em nosso País. Integração e cidadania, enfim, como elementos de força e não como uma fraqueza de nosso sistema.
Finalmente, o que a Sicilia pode oferecer a italianos oriundos de sua Circunscrição eleitoral e vice versa?
A Sicília pode oferecer à Itália e ao mundo um patrimônio único e inestimável de história e cultura; uma história de integração e hibridização de culturas milenares que encontraram em nossa ilha um ambiente único que deveria ser hoje um exemplo para toda a humanidade. A Sicília é então tradicionalmente uma terra de emigração; a minha experiência no Brasil me faz dizer com uma ponta de orgulho que a Sicília exportou para aquele País algumas de suas melhores competências: empreendedores e profissionais que todos invejam e que estariam prontos e ansiosos de fazer algo para a nossa belíssima região. Há alguns anos atrás, juntamente com o Ministro do Sul, Provenzano, promovi e acompanhei as várias etapas do projeto “Talentos para o Sul” que tinha como objetivo justamente a identificação e valorização dos extraordinários talentos que do sul da Itália partiram para o mundo nas últimas décadas. Se a Sicília tiver essa inteligência e sagacidade de se conectar com essa “Outra Sicília” que vive no mundo poderá talvez retomar um caminho de crescimento e desenvolvimento à luz da inovação e da internacionalização, no sulco de uma tradição milenar que sempre nos viu destacar em todos os campos da ciência, da arte e das belezas turísticas. É esse o desafio que devemos ter a coragem de abraçar nos próximos anos!
Entrevista publicada da “Il Peso Specifico” de Palma de Monteddhiaro (número 73 – 2023)