“Esperamos atitudes e diretrizes responsáveis de nossos governantes neste momento sério, de acordo com as indicações de especialistas, da ciência e não com o instinto de salvar a economia ou se reeleger”, diz em artigo o ex-deputado italiano Fabio Porta. Confira
Por Fabio Porta*, com tradução de Vinicius Sartorato**
Embora a tendência de infecções e mortes esteja em declínio há quatro dias (número positivo e reconfortante), não é improvável que nos próximos dias a Itália atinja o número dramático de 100 mil infecções relatadas e 10 mil mortes causadas pelo coronavírus. Um número assustador, que confirma essa epidemia como a principal tragédia vivida pelo país após a 2ª Guerra Mundial.
O vírus, que começou na China, encontrou seu novo foco na Itália (especialmente nas regiões do norte), embora seja provável que nas próximas semanas o número de pessoas infectadas e mortas aumente em outros países, em especial nos Estados Unidos; é igualmente preocupante os dados provenientes de outros países europeus, em particular da Espanha.
Estamos diante da primeira pandemia do novo milênio, oficialmente proclamada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março passado.
A Itália, a primeira entre os países da Europa e do Ocidente, já havia determinado, a partir de 7 de março, a quarentena de todo o território nacional, com o fechamento de escolas e todas as atividades não fundamentais e a obrigação de ficar em casa para todos.
Uma medida de “distanciamento social”, indicada por todos os epidemiologistas e cientistas como a única maneira de evitar novas infecções e a rápida disseminação do vírus; a decisão corajosa e drástica do governo italiano foi seguida de perto por outros países europeus: primeiro a Espanha, depois a França, a Alemanha e finalmente, a relutante Grã-Bretanha liderada pelo conservador Boris Johnson, o último líder a ceder – diante do aumento dramático de infecções e indicações de especialistas à determinação da quarentena.
Também na Itália, o comportamento e as declarações do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, despertaram apreensão e espanto, tanto por minimizar repetidamente a pandemia”quanto por referir-se – com referência explícita à Itália – a morte de idosos com um excesso de cinismo e superficialidade.
Não apenas isso, de fato (e como os dados confirmam), o vírus não poupa os jovens, mesmo que a tendência afete principalmente os idosos; a morte dos idosos nunca pode ser atribuída como um “mal menor ou necessário”, pelo menos para aqueles que acreditam na dignidade e sacralidade da vida humana.
Esperamos atitudes e diretrizes responsáveis de nossos governantes neste momento sério, de acordo com as indicações de especialistas, da ciência e não com o instinto de salvar a economia ou se reeleger. Somente se salvarmos o maior número de vidas humanas, poderemos pensar em como sair da iminente e de certa forma devastadora crise econômica em breve.
A Itália já destinou €50 bilhões para medidas imediatas de apoio a famílias e empresas para lidar com emergências e a União Europeia, com uma decisão tomada pela primeira vez em sua história, autorizou uma flexibilização do “Pacto da estabilidade”, que vincula todas as economias dos países membros, autorizando os 27 estados do bloco a tomar empréstimos e introduzir todos os recursos necessários para enfrentar a crise em suas economias nacionais.
O mundo após o coronavírus nunca mais será o mesmo; estamos percebendo isso muito claramente na Itália e gradualmente todas as nações do planeta terão a mesma consciência.
Existem muitos ensinamentos que essa pandemia está transmitindo para nós; cada um de nós devemos ter a sabedoria de valorizá-los, o único antídoto a sair vivo e mais forte desse drama. Primeiro, entender o quanto as relações interpessoais são vitais e indispensáveis, especialmente as relações familiares, bem como a solidariedade entre ricos e pobres, jovens e idosos; portanto, a importância dos sistemas de saúde públicos e universais, uma garantia real de salvação para povos e nações, uma vez que o vírus afeta a todos.
E, finalmente, a seriedade e a competência da política e de seus representantes, considerando que está nas mãos dessas pessoas o nosso destino todos os dias e que comportamentos errados ou irresponsáveis podem prejudicar definitivamente o futuro de todos nós!
Só assim o lema que voa em todas as varandas italianas neste momento não será apenas uma esperança, mas uma realidade: #Tuttoandràbene!
*Fabio Porta é secretário do Partido Democrático (PD) Italiano no Brasil, ex-deputado do parlamento italiano (2008-2018)
**Vinicius Sartorato (@vinisartorato) é jornalista e sociólogo. Mestre em Políticas de Trabalho e Globalização pela Universidade de Kassel (Alemanha).
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