As migrações são, seguramente, o fenômeno social mais rico e disruptivo da história da humanidade; já o sabemos bem, nós italianos, que no curso dos séculos invadimos, pacificamente, o mundo dos nossos antepassados e hoje somamos uma das maiores comunidades estrangeiras fora dos confins nacionais.
Segundo a Organização das Nações Unidas, o número dos migrantes no mundo, hoje, é estimando em 272 milhões de pessoas; uma população que cresce a um índice superior à taxa de crescimento dos habitantes do planeta, com um notável incremento nos últimos anos.
Um fenômeno complexo, obviamente, que requer um esforço sempre maior da parte dos Estados e dos organismos internacionais, a fim de evitar, de um lado, formas de exploração e, de outro, episódios de intolerância racial ou de terrorismo internacional.
De qualquer forma, e a história nos ensina, trata-se de um fenômeno, em geral, positivo, além de um dos fatores de crescimento e de desenvolvimento dos países, conforme lembra-nos o próprio Secretário das Nações Unidas para os Assuntos Econômicos e Sociais, Liu Zhenmin: “Facilitar formas de migração e de mobilidade da população regular, ordenada e responsável, contribuirá para alcançar as metas de desenvolvimento sustentável”.
Para a Itália, que no ano passado o nosso instituto nacional de estatística (ISTAT) retratou como um País sempre mais pobre, mas, sobretudo sempre mais velho, ou seja, em recessão demográfica, além de econômica, as migrações (de entrada e de saída) podem realmente representar – ao contrário do que costuma ser dito – uma saída real, se não uma tábua de salvação para o futuro.
De fato, a Itália continua sendo o país europeu mais velho e, portanto, com a população em idade ativa tendendo a ser a menor; as consequências desses dados demográficos são refletidas no Produto Interno Bruto (PIB), tanto em termos quantitativos quanto qualitativos; ou seja, o declínio também é da produtividade geral, que precisa de energias novas e qualificadas para serem mantidas em altos padrões.
Nesta perspectiva, uma política inclusiva e inteligente, em relação aos dez (10!) milhões de migrantes italianos, considerando os italianos no mundo e os estrangeiros na Itália, permitiria ao nosso País um verdadeiro salto de qualidade com um impacto direto, tanto na economia quanto na demografia.
Os nossos políticos, ao invés de enfrentar demagogicamente e com base em pretextos o fácil conflito emigrados-imigrantes (ius soli versus ius sanguinis), deveriam trabalhar para criar programas de integração social e cultural destinados a esse contingente único e extraordinário, constituído principalmente por pessoas jovens e qualificadas.
Infelizmente, muitas vezes e também devido à distorção das notícias que circulam nas redes sociais, a percepção é bem diferente da realidade; de acordo com os últimos dados oficiais do EUROSTAT (instituto de estatística da União Europeia), os imigrantes na Itália não excedem 6% da população: percentual equivalente à metade daquele da Espanha ou a um terço daquele da Suíça. Pelo contrário, o fluxo de italianos (especialmente os jovens, mas não apenas) retomou fortemente a emigração. Nos últimos quatro anos, quase 1% dos italianos emigraram para o exterior. Uma figura impressionante, semelhante à da última grande emigração do século passado, a do período pós-guerra. Um dado sobre o qual se deteve, meses atrás, Sabino Cassese, jurista e juiz emérito da Corte Constitucional: “O verdadeiro problema da Itália não é a imigração, mas a emigração!”.
Se, por outro lado, queremos que os fluxos migratórios deixem de ser um problema e voltem a ser uma solução, devemos, em primeiro lugar, começar a conhecê-los melhor. A minha proposta de ensino multidisciplinar de migrações nas escolas continua, portanto, muito atual e, de certa forma, fundamental. Somente assim evitaremos cair na armadilha da propaganda para enfrentar de maneira estratégica e perspicaz a complexa questão migratória, reportando-a à extraordinária potencialidade que a história da presença italiana no mundo já nos mostrou.
Fabio Porta
Sociólogo, Coordenador do Partito Democratico (PD) na América do Sul, deputado por duas vezes, eleito pela Circunscrição Exterior, no Parlamento italiano.
Oriundi.net 19.12.19